Albert Hofmann: Jogos de Azar, Deuses e LSD
Albert Hofmann (1906-2008) é um personagem ambíguo. Por um lado, ele é conhecido como o descobridor do LSD, uma droga que incendiou a cena psicodélica dos anos 60 e influenciou profundamente a cultura popular. Por outro lado, ele também era um cientista respeitado em seu tempo, e se dedicou a pesquisas sobre medicamentos alternativos e espiritualidade. Mas há outro lado menos conhecido de Hofmann: seu fascínio por jogos de azar.
Talvez isso possa parecer surpreendente à primeira vista - o que as drogas psicodélicas têm em comum com jogos de azar? Mas Hofmann acreditava que havia uma relação entre as duas, e que ambos poderiam fornecer uma porta de entrada para a consciência humana. Além disso, suas experiências pessoais com jogos de azar influenciaram seu trabalho científico em torno da psicodelia, e vice-versa.
Hofmann começou a experimentar com drogas psicodélicas em 1938, quando sintetizou o LSD pela primeira vez. Ele estava procurando uma nova substância para tratar dores de cabeça e enxaquecas, e, inadvertidamente, descobriu uma droga que iria mudar sua vida e a de muitas outras pessoas. Durante os anos seguintes, ele se dedicou a estudar os efeitos do LSD em si mesmo e em outras pessoas, incluindo artistas, escritores e cientistas.
Mas o interesse de Hofmann por espiritualidade e medicina alternativa antecedeu de longe sua experimentação com o LSD. Em 1927, ele ingressou na Universidade de Zurique para estudar química e farmácia, e rapidamente se envolveu com a chamada medicina naturista. Ele começou a questionar a eficácia dos medicamentos convencionais, e a explorar outras formas de cura, como a homeopatia e a fitoterapia.
Esses interesses o levaram a estudar as plantas - em particular, aquelas que possuíam propriedades psicoativas. E é aqui que entra o jogo de azar. Hofmann acreditava que certas plantas - como o cogumelo psilocibina e o cacto peiote, usados em rituais xamânicos - poderiam fornecer acesso a estados de consciência alterados, assim como o álcool e o tabaco.
Mas Hofmann não se limitou a estudar plantas. Ele também se interessou pelos jogos de azar, particularmente a roleta e o I Ching, um antigo livro chinês de adivinhação. Ele acreditava que esses jogos de sorte podiam fornecer insights sobre a mente humana e o universo em geral. Por exemplo, o I Ching podia ser usado como uma ferramenta para adivinhar o futuro, e a roleta poderia ser usada para testar hipóteses sobre a probabilidade e aleatoriedade.
Esses interesses aparentemente díspares se fundiram quando Hofmann começou a experimentar com LSD. Ele acreditava que a droga podia fornecer uma experiência de revelação semelhante àquela obtida através dos jogos de azar - ou seja, um vislumbre da ordem subjacente do universo e da consciência humana. Para Hofmann, o LSD não era apenas uma droga recreativa ou terapêutica, mas uma ferramenta para o autoconhecimento que poderia potencialmente transformar a humanidade.
É claro que nem todos compartilham a visão de Hofmann sobre jogos de azar e LSD. Alguns podem argumentar que a busca por experiências psicoativas e espirituais é uma forma de escapismo ou ilusão, e que o jogo simplesmente reforça a ganância e a exploração. No entanto, é inegável que Hofmann contribuiu significativamente para o estudo da psicodelia e suas possíveis aplicações na medicina e na espiritualidade - e que sua curiosidade por jogos de azar ajudou a alimentar essa busca por conhecimento e consciência.
